COISAS QUE ME MATAM

Eu moro em São Paulo. Periferia de São Paulo. Extremo da Zona Leste. Um bairro que fica exatamente a 23Km do centro de São Paulo. Um lugar onde moram aproximadamente 500.000 pessoas. Um bairro jovem. Mais ou menos 20 anos. Quando mudei para cá há 11 anos atrás, algumas coisas me chamaram muito a atenção. Foi o primeiro lugar em São Paulo que vi que roubavam sinal telefónico de um orelhão. Havia fila para falar. Depois descobri a tubaina em saquinho. Demorei para entender como um lugar dentro de uma imensa capital como São Paulo, pode ter tanta diferença e tantos contrastes. Morar na periferia não me obriga a ser um delinquente, um revoltado, um marginal. Morar na periferia não me dá direito de colocar fogo em orelhões Morar na periferia não faz de mim um ser excluído da sociedade. Muito pelo contrário. Morar na periferia exige de mim um comportamento ético impecável. Mostrar que somos como todos e temos direitos como todos. Pior é aquele que diz que moramos em guetos. Tudo isso do ponto de vista social é plenamente aceitável. O que me incomoda mesmo é sair de manhã é ver a quantidade de pessoas que vivem do lixo despejado pelos apartamentos. São homens, mulheres e crianças que vasculham o lixo. São inúmeras as pessoas que vivem da coleta do lixo. Não propriamente coleta, mas vivem do lixo reciclável. Garrafas de refrigerantes são as mais disputadas. Uns chegam com a família em carros velhos e vasculham cada saco de lixo. As crianças brincam e os adultos suam a camisa em busca de algo, em busca do seu sustento e eu como pai de família, sei do que somos capazes para colocar comida em nossa mesa. Mas me dó demais ver pessoas sobrevivendo do lixo de outras pessoas. Pessoas que tratam uma garrafa plástica como um pedaço de ouro. Já morei em vários bairros aqui de São Paulo. Jardim da Saúde, Interlagos, Centro de São Paulo, Parelheiros, Cerqueira Cesar e nunca vi algo tão degradante como o que essas pessoas fazem. Está na hora do Brasil tirar essas pessoas do lixo. Está na hora do Brasil implantar no onde residem mais de 100.000 pessoas, a coleta seletiva de lixo. Isso deve ser lei. Isso é apenas uma maneira de devolver a dignidade ao seres humanos.
Algumas coisas assim, me matam por dentro...